Solenidade dos Santos Fundadores de Cister
26 de janeiro de 2020
Os santos abades Roberto, Alberico e Estêvão, os pais de nossa Ordem, lançaram os alicerces de uma muito fecunda família espiritual e de uma não menos fecunda tradição espiritual, ainda hoje vigorosa na Igreja.
Além de seu papel de fundadores, os três monges foram os catalisadores de um ideário de monaquismo beneditino reformado que dominou os corações e as mentes de uma parte da comunidade do Mosteiro de Molesmes, de onde saíram para fundar o Mosteiro de Cister, no ano 1098.
Este grupo de monges santamente inquietos deixou seus traços nos textos fundantes da Ordem Cisterciense, destacando-se entre eles a Carta de Caridade, o documento que fez dos cistercienses uma Ordem monástica, no sentido próprio do termo. Aprovada pelo Papa em 23 de dezembro de 1119, acaba de contemplar 900 anos (1119 – 2019). Embora a tradição atribua a Santo Estêvão sua redação, ela traz a marca e o carisma de todo aquele grupo reformador, no qual destacaram-se também de forma eminente os santos abades Roberto e Alberico.
Assim, o nosso blog quer honrar sua memória, com este pequeno trecho da conferência “A primazia da caridade”, pronunciada por D. Mauro-Giuseppe Lepori, Abade Geral da Ordem Cisterciense (O.Cist), no simpósio “Identidade cisterciense hoje”, sobre a Carta de Caridade.

« Talvez esta seja a fundamental originalidade da Carta da Caridade: exprimir uma fidelidade à Regra de São Bento que entende que tudo aquilo que a Regra é para a comunhão de uma comunidade se pode e se deve viver na comunhão entre os mosteiros. É assim que nasce uma Ordem, uma família carismática. É como se uma célula entendesse que o que a torna viva e unida deve valer para todo o corpo, deve valer na relação com as outras células para formar um corpo vivo. Um corpo adulto começa com as poucas células que compõem um embrião, mas nenhuma célula pode permanecer viva se não viver na unidade do corpo. É uma lei que se aplica a toda a Igreja.
No caso de nossa Ordem, a Carta da Caridade expressa a consciência de que nenhum mosteiro da família nascida em Cister pode viver sozinho, pode viver de forma independente. Nem mesmo Cister, o Mosteiro Mãe, pode viver sozinho. A Carta da Caridade, portanto, expressa também a necessidade que prova a comunidade de Cister de ser ajudada a permanecer fiel ao carisma recebido.
É assim que a Ordem nasceu como uma comunidade de comunidades, como comunhão de comunidades, como um corpo no qual os membros não são apenas os indivíduos que compõem a comunidade cristã, mas as comunidades individuais que compõem uma família de comunidades, uma família organizada de comunidades. »
Ótimo artigo sobre a Carta da Caridade, que pelo visto é tão importante que mereceu um simpósio sobre ela. Mas afinal, o que é a Carta da Caridade?
É possível encontrá-la em português?
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A Carta da Caridade é, por assim dizer, o documento fundante da Ordem.
Na época da fundação do mosteiro de Cister, o modelo dominante era o da grandiosa Abadia de Cluny, que governava um império de mosteiros menores.
Por causa da seriedade dos fundadores de Cister acerca da pobreza e da sobriedade monástica, era preciso encontrar um sistema que permitisse que os mosteiros nascidos da Abadia de Cister se coligassem numa “fraternidade de mosteiros” de modo a manter a integridade da disciplina e dos costumes, mas sem concentrar o poder em um único mosteiro central.
A solução proposta por Santo Estevão na Carta da Caridade é que cada mosteiro guardaria sua autonomia e autodeterminação, ao mesmo tempo que a disciplina e o carisma seriam salvaguardados e promovidos através de um relacionamento pastoral contínuo entre a casa-mãe e a casa-filha (filiação), bem como a autoridade do Capítulo Geral da Ordem.
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Paz!
A carta da Carta da Caridades pode ser considerada como o “estatuto” dos Cistercienses?
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De certo modo, sim.
Quando, no ano 1098, o grupo de monges liderado por Roberto, Alberico e Estevão partiu de Molesmes para fundar o Mosteiro de Cister, eles não ambicionavam fundar uma nova Ordem monástica, mas simplesmente estabelecer uma comunidade onde a Regra de nosso Pai São Bento fosse vivida em todo o seu vigor e toda a sua pureza.
Contudo, a Divina Providência conduziu as coisas de tal modo que, com o passar dos anos, foi ficando cada vez mais clara a necessidade de que Cister e suas casas-filhas fossem erigidas como Ordem monástica autônoma. A Carta da Caridade, redigida em 1119, torna-se assim o documento fundante da Ordem nascente.
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Disciplina-carisma-autonomia resguardados pelo AMOR à unidade em Cristo.
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Este artigo evidencia o apelo de Jesus no Evangelho: “Pai, que todos sejam um!”. É interessante perceber que a vida monástica cisterciense é a busca para se viver não apenas esta unidade de irmãos, uma unidade de corações, mas também uma “unidade de mosteiros irmãos”!
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Sim, certamente este é o coração do carisma Cisterciense: a perfeição da Caridade.
A Caridade para com Deus, em primeiro lugar. E, em conseqüência desta, a Caridade entre os irmãos, segundo o modelo dos Atos dos Apóstolos: “Eles eram um só coração e uma só alma”.
E, por fim, a Caridade entre os mosteiros-irmãos.
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A Paz de Cristo!
Muito proveitosa a explicação sobre a Carta da Caridade. Como se dá, no dia a dia, o relacionamento pastoral contínuo entre a casa-mãe e a casa-filha (filiação)?
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Os mosteiros de nossa Ordem são autônomos.
Contudo, os laços de filiação entre a Casa-Mãe (casa fundadora) e a Casa-Filha (casa fundada) sempre se mantém vivos, de modo que, na “árvore genealógica” da Ordem, todos os mosteiros remetem ao Mosteiro de Cister.
O relacionamento entre a Casa-Mãe e a Casa-Filha se dá, princialmente, através das visitas do abade da Casa-Mãe (que chamamos de “visita regular”).
São visitas pastorais, que visam ajudar a Casa-Filha em seus desafios e vicissitudes, de modo a crescermos juntos rumo à “plena estatura da idade de Cristo” (Efésios 4, 13).
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Obrigado, Irmão.
É uma organização interna bem pensada mesmo. Apoio mútuo é atitude vinda de Deus.
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Que benção! Muito bom!
Sendo a Carta da Caridade o documento que fundou a Ordem Cisteciense, o que diferencia então as duas ordens cistercienses: OCist e OCSO? Qual é o vínculo entre elas hoje?
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A divisão dos Cistercienses em duas Ordens independentes (O.Cist, ou “Comum Observância”, e OCSO ou “Estrita Observância”) é bastante recente: final do século 19, com o papa Leão XIII.
Ambas as Ordens reconhecem-se herdeiras do mesmo patrimônio espiritual e portadoras de um mesmo ideal – isso inclui a Carta da Caridade e todo o legado de nossos Padres Fundadores.
Hoje, reconhecemos que as nossas diferenças não são um obstáculo à comunhão, mas antes uma complementaridade em vista de uma tarefa conjunta na Igreja.
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O Simpósio sobre a Carta da Caridade aconteceu no Brasil?
Uma sugestão: porque não falar sobre as conferências aqui no blog? Ou pelo menos disponibilizar as conferências…
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Sim, o Simpósio “Identidade Cisterciense Hoje”, sobre o IX centenário da Carta da Caridade, se realizou na Abadia Nossa Senhora da Assunção de Hardehausen-Itatinga (SP), em maio do ano passado.
Pensamos, sim, em falar sobre o Simpósio no blog. Obrigado pela sugestão.
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Agradeço a oportunidade de poder começar a me inteirar desta ordem da qual cada vez mais me aproximo!
Muitas semelhanças entre este processo cisterciense e nossos grupos de analistas!
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