Getrudes de Helfta
monja cisterciense

“Que os votos e desejos do meu coração se alegrem na tua presença, e que os dons de tuas graças cantem a vossa glória.
Que os suspiros e gemidos deste exílio alegrem-se em tua presença, e te louvem ó meu Deus, minha espera, minha esperança.
Que minha esperança e minha confiança alegrem-se em tua presença: pois, do pó da sepultura, tu me reconduzirás a ti, ó Deus, vida bem-aventurada.
Que o selo de minha fé se alegre em tua presença: ela é o sinal de que pertenço a ti.
E – eu creio – na minha carne verei meu libertador.
Que o desejo por ti sentido, que a sede por ti suportada, alegrem-se na tua presença.
Porque, depois desta vida, ó meu Deus, minha verdadeira pátria, irei enfim a ti”.
Arauto do Amor Divino

Percorrendo o caminho…
Santa Gertrudes (1256 — 1302) é uma das santas mais amadas da tradição monástica. Nela se deu um encontro maravilhoso entre a Regra de São Bento e o dom da contemplação mística.
No texto acima, Gertrudes fala sobre uma das grandes tarefas espirituais propostas por São Bento: viver continuamente na presença de Deus. Seja na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença, fixamos o nosso coração no Senhor e assim aprofundamos nossa relação de amor com Ele.
São Bento e todos os mestres da vida espiritual nos convidam a nos aplicarmos e essa prática ao longo de todo o dia, em todos os momentos. Devido à nossa fraqueza, certamente nos esqueceremos muitas e muitas vezes da presença de Deus. Mas não desanimemos! Eis o mais importante: cada vez que nos lembrarmos de Deus, nos colocamos em sua santa presença e dirigimos a ele o afeto de nosso coração. E pedimos a graça de nos mantermos nessa comunhão o maior tempo possível.
Notemos ainda que, para Santa Gertrudes, não se trata apenas de mantermos o coração na presença de Deus, mas sobretudo de nos alegrarmos nessa presença:
“Humildes, vede isso e alegrai-vos: o vosso coração reviverá,
se buscardes o Senhor continuamente” (Salmo 68, 33)
Pouco a pouco, a prática de viver sempre na presença de Deus vai se enraizando em nossa vida. Certamente muitos obstáculos (interiores e exteriores) surgirão. Por isso, peçamos que o auxílio divino e a intercessão de Santa Gertrudes nos fortaleçam nessa prática.
Vamos percorrer juntos esse caminho?
Partilhe conosco sua experiência! Seus comentários, perguntas e sugestões são muito bem-vindos.
Buscar, buscar e buscar estar na presença de Deus. É o que São Bento nos ensina. Neste nosso mundo contemporâneo, esse é um dos grandes desafios! A busca por Deus é o que dá sentido verdadeiro a nossa vida. É o que realmente – no sentido literal da palavra – ou seja, o que é real e verdadeiro, pode nos dar a alegria perfeita. E isso o mundo não nos rouba pois o que Deus faz é verdadeiro, belo e bom. Ele nos atrai para si e faz com que não queiramos seguir por outro caminho. Agradeço a equipe do Caminho Cisterciense por nos enriquecer com a publicação destes artigos. Deus abençoe nossos caminhos na busca para continuamente estarmos na presença de Deus, porque este é o caminho para alcançarmos a santidade com fé e alegria.
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Caminho Cisterciense, como perseverar nessa busca por Deus num contexto em que quase tudo se esforça para não “precisar” de Deus? Numa era tão autorreferencialista como a nossa?
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Santa Gertrudes nos dá uma orientação: elevar o nosso coração a Deus cada vez que tomamos consciência d’Ele, e dirigir-lhe uma súplica breve. Cada vez que nos lembramos de que estamos na presença de Deus (“em quem vivemos, nos movemos e somos”, como diz São Paulo), dirigimos a Ele o nosso afeto e o nosso pensamento. Este caminho é extremamente SIMPLES — e por isso é tão exigente!
Mas para levar a prática da lembrança de Deus ao longo de todo o dia, precisamos do que a sabedoria monástica chama de “momentos fortes”: momentos diários quando paramos tudo, e nos dedicamos inteiramente ao encontro com Deus na oração: seja na lectio divina, nos salmos, na liturgia das horas, no santo rosário, etc. Esses momentos nos “abastecerão” a alma para a jornada do dia.
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Para chegar a essa maturidade, quanto caminho ainda preciso percorrer, porque este mundo é abundantemente provocador da minha estabilidade espiritual. Mas, eu suplico dia e noite para nunca sair da presença de Deus, pois os ruídos das circunstâncias que me cercam sempre parecem mais fortes, mais altos e que estão sobrepostos a tudo. Santa Gertrudes, rogue por nós!
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Sua solução não poderia ser mais acertada: “suplicar dia e noite para nunca sair da Divina Presença”. Este o caminho apontado pelo próprio Cristo:
“Por acaso não fará Deus justiça aos seus eleitos, que clamam por ele dia e noite? Eu vos digo que em breve lhes fará justiça” (Lc 18, 6)
Por mais que os ruídos e as distrações pareçam mais fortes, a verdade é: Deus é mais forte. E o que realmente importa aos olhos de Deus é a nossa perseverança, e não os “resultados” aparentes.
“Mas quando o Filho do Homem vier, encontrará fé sobre a terra?”…
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Pingback: “Que todo o meu ser se alegre em tua presença” — O Caminho Cisterciense – ART PULCHRI BONI ET VERI ;
“Viver continuamente na presença de Deus” é uma orientação essencial para dar sentido à vida humana.
Por gentileza, poderiam passar uma sugestão oração ou jaculatória que nos ajude a nos colocarmos na presença de Deus?
Obrigado.
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A arte de cultivar a lembrança de Deus ao longo do dia é chamada na tradição monástica de “oração contínua”. Para que possamos empreender essa tarefa, é crucial nos dedicarmos, diariamente, aos momentos fortes de oração. Isto é: momentos em que paramos todo o resto, para nos alimentar só de Deus. Pode ser a oração dos salmos, ou o santo rosário, a liturgia das horas, etc.
Para levar esse “estado de oração” ao longo do dia, a prática mais tradicional é sempre ter consigo uma palavra, uma jaculatória.
Na tradição Bizantina há o versículo “Senhor Jesus Cristo, filho de Deus, tende piedade de mim”.
Na Tradição do Deserto, uma das “palavras de oração” mais recomendadas era: “Vinde, ó Deus em meu auxílio” (Sl 69, 1). Esse versículo foi colocado por São Bento no início de cada uma das horas do ofício divino. Isso significa que, para São Bento, o ofício divino é uma “escola de oração contínua”.
Portanto, estabelecer os momentos fortes diários de oração, e cultivar a “lembrança contínua de Deus”, são dois lados de uma mesma moeda.
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Muito obrigado!
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Rezemos como nos ensina o apóstolo São Paulo: “nada poderá nos separar do amor de Deus”!
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Sim. Por isso um dos versículos mais importantes da Regra de São Bento é: “Nihil Christo amore praeponere” (Nada antepor ao amor de Cristo)
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Qual livro vocês recomendam sobre Santa Gertrudes?
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Dois títulos foram publicados pela Editora Subiaco (das monjas beneditinas):
“Gertrudes de Helfta – Vida e exercícios Espirituais” e “Mensagem da Divina Misericórdia” (que contém os três primeiros livros do “Arauto do Amor Divino”).
Ambos podem ser adquiridos na livraria do Mosteiro Trapista: livrariadomosteiro@gmail.com
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Pax!
Quando falamos da oração continua, uma dificuldade que tenho é a de como lidar com as distrações durante essa oração. Por vezes, quando rezo o Rosário enquanto estou caminhando na rua, me pego distraído pensando na “morte da bezerra” no meio de uma Ave Maria, às vezes até me perco no meio da dezena. Alguém tem alguma dica de como evitar esse tipo de situação?
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Caríssimo, temos uma boa notícia para você: para nós “mortais”, o que se chama “oração contínua” é, no fundo, o desejo da oração contínua. Um empenho contínuo, sempre caindo e se levantando.
Sim, nossa mente vai se distrair sempre de novo. Sempre e sempre. A questão é: assim que nos damos conta de que nos distraímos e estamos perdidos em nossas divagações, retornamos o pensamento a Deus. Serenamente, sem auto-desprezo. Sem raiva. Simplesmente nos re-colocamos na presença de Deus, e dizemos humildemente: “Aqui estou eu… de novo!”
“Ainda que o justo caia sete vezes, ele voltará a se erguer” (Provérbios 24, 16).
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Olá, pessoal
Sobre esse tema fascinante, recomendo altamente essa pregação de Dom Henrique Soares, Permanecer em Deus: https://youtu.be/-OsmfatNBQE
“Permanecer no deserto, na cela, no coração, e ele se torna um lugar de cura, pois descobrirei surpreso que no âmago do meu deserto, da minha cela, Deus está!”
Grande abraço!
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Obrigado, caríssimo!
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“Nos mantermos nessa comunhão o maior tempo possível…” aqui é o início do nosso desafio constante. Compreendi que em tudo na vida do que faço busco fazer na presença de Deus..mas será mesmo?
Outro dia diante de uma reflexão deveras longa, compreendi que os medos que sentimos nada mais são do que sair da presença do Senhor. Foi uma descoberta linda no caminho da conversão diária…
Santa Gertrudes rogai por nós!
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Sim, uma linda descoberta no caminho da conversão, obrigado por compartilhar! Façamos nossa a experiência do Salmo 26:
“O Senhor é minha luz e minha salvação, a quem temerei?
O Senhor é o protetor da mina vida, de quem terei medo?
Espera no Senhor e sê forte! Fortifique-se o teu coração e espera no Senhor”.
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Abrão tinha 99 anos quando o Senhor lhe apareceu e disse “Abrão anda na minha presença e sê perfeito” (cf. Gn 17,1). Desde então ele passou a ser chamar Abraão.
Então sempre é possível andar na presença de Deus, não importa o tempo.
Então, pergunto, assim como Abraão, para podermos andar na presença de Deus temos de sair de nossa terra, parentes, e até mudarmos de nome? Só assim muitas vezes teremos uma abençoada descendência?
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Certamente todos os batizados são chamados a seguir os passos de Abraão; mas a vocação de Abraão deve ser compreendida em chave espiritual, e não literal. Por exemplo, para João Cassiano (monge do século IV, que exerceu grande influência sobre a Regra de São Bento), “sai da tua terra” significa o desapego dos bens deste mundo; “deixa tua parentela” é a renúncia aos vícios e ao modo de viver mundano; e por fim “deixa a casa de teu pai” seria uma renúncia de tipo mais espiritual, uma iluminação da inteligência que ultrapassa uma visão de mundo meramente terrestre e mundana, um “abrir os olhos” para o Mundo Vindouro.
Cassiano falava da vida monástica, mas é perfeitamente possível e legítimo que o leitor adapte seu ensinamento à sua realidade concreta de vida, hoje.
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Que este tempo do Advento nos ajude a andar na presença do Senhor e como nos ajuda a rezar Isaías e que “nos deixemos guiar pela luz do Senhor” (Is 2,5).
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